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quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Sutra do Coração.

Prajnaparamita T'hagka
Livro Dalai Lama

Sadhana do Sutra do Coração - Editora Makara


Em sânscrito: Baghavat Prajnaparamita Hridaya
Em tibetano: Tchom Den De Ma She Rab Tchi Pa Rol Tu Tchi Pe Nying Po
Em português: A Quintessência da Perfeição do Conhecimento Transcendente – A Deusa Transcendente, Realizada e Vitoriosa

Indescritível, inconcebível e inexprimível, a perfeição do conhecimento transcendente é não nascida e incessante – a própria natureza do espaço. É o campo do estado desperto primordial autoconhecedor de cada um. Presto homenagem à mãe dos budas dos três tempos.

Homenagem à Quintessência da Perfeição do Conhecimento Transcendente!

Assim ouvi:

Certa vez o Conquistador Transcendente e Realizado encontrava-se no Pico dos Abutres, em Rajagriha, acompanhado de uma numerosa sanga de monges e bodisatvas.
Naquele momento, O Conquistador Transcendente e Realizado descansava em equilíbrio na absorção meditativa de examinar os fenômenos, conhecida como “o estado de profunda percepção”.
Naquele mesmo momento também, o grande e corajoso bodisatva, o nobre Avalokiteshvara, examinava atentamente o caminho profundo pelo qual o conhecimento transcendente é consumado e viu com precisão que os cinco agregados da mente e do corpo são vazios de natureza própria.
Então, pelo poder de Buda, o valoroso Shariputra dirigiu as seguintes palavras para o grande e corajoso bodisatva, o nobre Avalokiteshvara:

- “Como deve proceder um filho de ascendência espiritual que deseje se engajar no caminho profundo pelo qual o conhecimento transcendente é consumado?”

Uma vez ditas essas palavras, o grande e corajoso bodisatva, o nobre Avalokiteshvara, dirigiu as seguintes palavras para o valoroso Shariputra:

- “Ó Shariputra, os filhos ou filhas de ascendência espiritual que desejem se engajar no profundo caminho pelo qual o conhecimento transcendente é consumado deveriam ver com precisão desta maneira: deveriam ver, precisa, correta e intimamente, que seus cinco agregados da mente e do corpo são vazios de natureza própria.

A forma é vacuidade.
A vacuidade é forma.
A forma não é outra que não a vacuidade.
A vacuidade não é outra que a não forma.

Da mesma maneira, sensações, percepções, fatores condicionantes e modalidades de consciência são vazios. Ó Shariputra, assim todos os fenômenos são vacuidade – eles são características, não nascidos e incessantes, estão além da imperfeição e da perfeição. Eles não decrescem e não aumentam.

Ó Shariputra, portanto, com vacuidade não há forma, não há sensação, não há percepção, não há estados mentais e não há consciência. Não há os sentidos da visão, da audição, do olfato, do paladar, do tato ou da mente discursiva. Não há formas, não há sons, não há cheiros, não há sabores, não há sensações táteis e não há conceitos. Não há ignorância nem ausência de ignorância e assim por diante inclusive não há envelhecimento e morte, nem ausência de envelhecimento e morte. Do mesmo modo, não há sofrimento, não há origem do sofrimento, não há cessação do sofrimento e não há caminho. Não há estado desperto primordial, não há realização e não há falta de realização.

Ó Shariputra, portanto, por não haver realização para bodisatvas, em vez disso, eles subsistem por confiarem na perfeição do conhecimento transcendente. Já que as suas mentes são desobscurecidas, eles são destemidos. Eles estão muito além de quais quer concepções errôneas e, portanto, alcançam o estado consumado do nirvana. Além disso, todos os budas existentes nos três tempos tornam-se budas, despertam perfeita e completamente para a insuperável, verdadeira e perfeita iluminação, por confiarem na perfeição do conhecimento transcendente. Portanto, já que o mantra da perfeição do conhecimento transcendente, o mantra do supremo estado desperto intrínseco, o mantra insuperável, o mantra que traz igualdade ao que é desigual, o mantra que pacifica totalmente todo o sofrimento, não é falso, ele deveria ser conhecido como verdadeiro.
Recito o mantra da perfeição do conhecimento transcendente.”

OM GATÊ GATÊ PARAGATÊ PARASAMGATÊ BODHÍ SOHÁ

“- Ó, Shariputra, assim deveria treinar-se um grande e corajoso bodisatva na perfeição do conhecimento transcendente.”

Então, o Conquistador Transcendente e Realizado ergueu-se daquele estado de absorção meditativa e expressou sua aprovação ao grande e corajoso bodisatva, o nobre Avalokiteshvara, dizendo:

“- Excelente, excelente! Ó filho de ascendência espiritual, assim é. Assim é. Dessa mesma maneira que você acabou de mostrar, assim se deveria praticar a profunda perfeição do conhecimento transcendente. Os tatágatas se regozijam com isso.”

Uma vez que o conquistador Transcendente e Realizado conferiu esse mandamento, o valoroso Shariputra, o bodisatva Avalokiteshvara, o mundo inteiro de deuses, humanos, semi-deuses e gandarvas, todos se regozijaram. Eles exaltaram as palavras proferidas pelo Conquistador Transcendente e Realizado.

Assim termina a Quintessência da Perfeição do Conhecimento Transcendente

Sob o patrocínio real do Rei Trisong Deutsen, em meados do século VIII, o tradutor tibetano (lotsaua) Bhiksu Rintchen De traduziu este texto para o tibetano juntamente com o mestre indiano (pandita) Vimalamitra. Foi editado pelos grandes tradutores tibetanos (lotsauas) Guelo, Namka e outros. Este texto tibetano foi copiado de afresco em Guedje Tchemaling, um dos templos do glorioso Samye Vihara

Cosmos

O Cosmos

“A um rio que tudo arrasta, todos chamam de violento; mas ninguém chama violentas as margens que o aprisionam há séculos.” Bertolt Brecht

No Colégio Santa Dorotéia, sempre fui o primeiro lugar de todos os torneios de redações do colégio inteiro, mesmo dos graus superiores ao meu. É que sempre consegui me expressar melhor por meio da palavra escrita e não da falada. A fala, assim como todos os atos, dominada pela mente, por alguma motivação e pelas emoções aflitivas arrisca uma compreensão errônea, um julgamento posterior confuso e ardiloso por meio do ouvinte que depois a destorce e usa para jogar contra nós! A escrita está registrada e documentada!

Nas minhas lembranças mais remotas que remontam ao berço, fui uma criança cerceada, visada, vigiada, controlada e recriminada. As palavras ásperas e rudes ressoam no meu ouvido até hoje. Quando as escuto, causam-me um mal-estar interior e só depois de adulta, ou direi, velha, consegui compreender a causa desta repulsa apesar de ainda me estremecer.

Meus pais como todos os pais do mundo, queriam que a sua filha brilhasse. Não brilhei!

Minha avó materna é a única pessoa de quem tenho lembrança tranqüila. Falava baixo, manso e conseguia desta maneira que eu comesse todo alimento sem pressionar-me. Não contava estórias. Levava-me a colher flores, o cosmos que grassava nos matos ao redor da casa dela. Morreu antes que eu completasse oito anos.

Às vezes, ponho-me a pensar: se ela tivesse sobrevivido até a minha idade mais adulta, teria eu julgamentos discriminativos sobre ela? Então, passo a perceber essa morte prematura como uma bênção para a minha lembrança, diria eu, macia e suave. Minha filha, que já conta trinta e um anos e ainda tem minha mãe viva analisa-a e a seus atos.

Nunca tive um irmão ou irmã com quem pudesse contar como amigo. Pelos caprichos da vida, fui a primeira filha mulher tendo um irmão mais velho que, agora julgo eu, talvez tenha se sentido enciumado pela minha presença de menina cheia dos vestidos rendados e bordados. Ah, se ele pudesse imaginar como estas vestimentas me apertavam, arranhavam e incomodavam! Quatro anos e meio depois, nasce outro homenzinho. Só depois dos meus oito anos é que veio outra menina, depois outra e depois um menino.

Nada sei dos meus irmãos. Não conheço seus pensamentos. Não me lembro de ter um momento tranqüilo do tipo “jogar conversa fora” com nenhum deles. Fiquei isolada deles, como num limbo.

Na adolescência, fui tornando-me retraída, ensimesmada, trancada. Esse comportamento complicou minha situação e fui novamente taxada de esquisita, nervosa, estranha, de espírito difícil. As pessoas falam. Essa fama correu a família inteira, chegando até aos tios, primos, sobrinhos, cunhadas e outros agregados. Talvez eu seja mesmo uma mulher alterada, a ovelha negra da família.

Quando eu contava dezoito anos perco meu irmão caçula num acidente de carro. Não tendo passado no vestibular e ficando sem o tempo do colégio, comecei a trabalhar muito cedo e encontrei o homem que seria meu marido e pai dos meus filhos vida afora.

Aí, já é outra estória. Mas a relação com minha família de berço e infância já estava estragada. Jamais consegui resgatá-la porque meus pais e irmãos não gostam de ler e eu sempre consegui me expressar melhor por meio da palavra escrita e não da falada.

Por isso tornei-me budista, tomei refúgio no Buda, no Dharma e na Sangha, as Três Jóias e leio os livros dos lamas e monges cujas palavras me acalmam a mente.

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